sábado, 4 de julho de 2015

QUAL É A GRAÇA DO FUTEBOL?


O futebol está cada vez mais chato, sem graça, como quase tudo neste mundo.
Atualmente quase nada passa impune pela patrulha do politicamente correto e sua bandeira da hipocrisia e da mentira moral.
A bola da vez é a provocação feita aos ponte-pretanos no Itaquerão, durante o jogo do Corinthians diante da Ponte Preta, pela 10ª rodada do Campeonato Brasileiro. No telão do estádio foi exibida a hashtag #Desde77, em alusão à histórica decisão do Campeonato Paulista de 1977 entre Corinthians x Ponte Preta, que encerrou um período de 23 anos sem títulos do Corinthians. Pouco para rapidamente "esquentar" as redes sociais com discussões e pontos de vista nada "futebolisticamente corretos".
Irritada, a diretoria da Ponte Preta pretende entrar com representação formal na CBF contra o Corinthians por "provocação, atitude imatura e que incita a violência". Os aborrecidos dirigentes alegam que a provocação aconteceu por meio oficial do clube da capital e não das arquibancadas. Mas a nota da Ponte publicada em seu site oficial também diz que "o título de 77 foi contestado pelos torcedores e por parte da crônica esportiva como fruto de favorecimento da arbitragem de então”. Ou seja, a provocação corintiana atingiu em cheio seu objetivo ao irritar profundamente o adversário, especialmente pela vitória do Corinthians por 2 x 0. Se o placar fosse favorável ao time do interior, quem garante que a provocação não seria devolvida em vez de questionada pelos ponte-pretanos?
Certo ou errado aos olhos do politicamente correto, o Corinthians usou um de uma infinidade de "recursos" que fazem parte de qualquer jogo. E a provocação ao adversário seja talvez a arma mais letal do jogo, a essência do futebol. Esse tipo de "provocação" acontece desde que o futebol existe. E essa essência não vai mudar, mesmo com os "adoradores de fair-play" ou os "donos da moral e dos bons costumes" de plantão se manifestando indignados a cada cena futebolisticamente normal como essa, ávidos por alimentar falsos moralismos ou despejar suas regras em qualquer oportunidade. 
É jogador que não pode comemorar gol com dancinha porque é "desrespeitoso". É árbitro que dá cartão amarelo quando o jogador resolve subir a escadinha para comemorar seu gol junto de sua torcida, ou então quando faz sinal de "silêncio" para a torcida adversária. É comentarista que quando jogava "aprontava" de tudo e hoje despeja regras nas cabines de TV. É isso, é aquilo, é tudo menos futebol.
Do jeito que as coisas andam, daqui a pouco vão querer proibir o drible, o chapéu ou a firula porque é uma ofensa ou falta de respeito. Ou então proibir a torcida de gritar gol, de modo a não "provocar" os torcedores do outro lado. A torcida que o fizer vai penalizar seu time com a perda de mando de campo, por exemplo. Tirar sarro ou caçoar do rival nem pensar.
Isso é futebol?
Cada vez mais querem elitizar o esporte mais popular do planeta, acabar com suas rivalidades e suas tradições, torná-lo um esporte comum e mesquinho, somente mais uma opção de lazer para os mais "favorecidos culturalmente"O torcedor autêntico, acostumado a extravasar sua alegria, apaixonado, "roxo", que sempre esteve presente de dia ou de noite, faça chuva ou faça sol, não terá mais seu direito antes assegurado de torcer e provocar o perdedor.
Nenhum esporte consegue ser tão homogêneo socialmente como o futebol. Na arquibancada, todos fazem parte da mesma classe, da mesma tribo, da mesma euforia. É uma catarse coletiva que faz desconhecidos se abraçarem sem nunca terem se visto antes. Ninguém pede referências à ninguém e todos são iguais perante o jogo. Todos gritam, choram, comemoram, provocam e xingam o adversário. Todos fazem parte do todo, oficialmente ou não. É preciso acabar com isso?
Um recado à Ponte Preta: ganhe um título sobre o Corinthians, instale um telão no estádio Moisés Lucarelli e devolva a provocação na mesma moeda quando os corintianos forem visitá-los.
Mais futebol e menos picuinhas.

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