sábado, 11 de julho de 2015

GUARDIOLA E O MUSEU DE NOVIDADES DA CBF


" - Antes da Copa, o Pep Guardiola queria treinar a seleção brasileira e não quiseram (...) Ele já tinha o time na cabeça, é o melhor treinador do mundo. O cara mais gestor esportivo que eu vi. Um cara que revolucionou o futebol, um time, uma equipe. Tivemos a chance de ter o cara sem ter que gastar, se o problema é dinheiro. A intenção dele era só receber se tivesse o resultado esperado pelo povo brasileiro. Você deixa passar uma oportunidade dessa? Você não pensa na seleção brasileira?"
(Daniel Alves, lateral do Barcelona e da seleção brasileira, em entrevista ao programa "Bola da Vez", do canal ESPN)

No Brasil, a mídia esportiva normalmente não ajuda um clube a crescer. Mas na maioria das vezes está sempre disposta a detoná-lo, colocá-lo na berlinda, se possível rebaixá-lo para a divisão abaixo. Afinal, por aqui notícia ruim dá mais audiência que notícia boa. E se é assim com os clubes, dá para se imaginar como a banda toca em relação à seleção brasileira.
Dispensar Mano Menezes a um ano e meio da Copa e colocar um renomado treinador estrangeiro em seu lugar seria então o prato cheio para a imprensa detonar a seleção? Tal medida da CBF seria escancarar nossa incapacidade de reinventar o futebol cinco vezes campeão do mundo? Seria admitir que nosso conceito de futebol é retrógrado e apegado à ideias ultrapassadas que não funcionam mais? Seria fazer o futebol-arte pedir ajuda ao futebol de resultados dos europeus? A CBF de Marin e Del Nero entendeu que sim. Pelo menos, é melhor acreditar nisso.
O lateral Daniel Alves, baiano de Juazeiro e que joga há 13 anos na Espanha, afirmou em entrevista que Pep Guardiola queria treinar a seleção brasileira logo após a controversa saída de Mano Menezes em 2012. Se não bastasse seu status na época de melhor técnico do mundo, o espanhol Josep Guardiola i Sala tinha credenciais mais que suficientes para ocupar um posto tão almejado. Ganhou tudo no Barcelona, superando o lendário Johan Cruyff: Copa do Rei, Campeonato Espanhol, Supercopa da Espanha, Supercopa Européia, Liga dos Campeões da Europa e Mundial de Clubes (foram 17 títulos conquistados como treinador entre 2008 e 2012). Pep sempre foi um pensador ousado, que gosta de modernizar e ao mesmo tempo adota um estilo de jogo baseado nas técnicas e táticas inovadoras de outra lenda, Rinus Michels, o holandês precursor do futebol total nos anos 70. Os times treinados por Pep jogam de forma compacta, marcam sob pressão, trocam passes de forma rápida e envolvente, fazem o jogo fluir sempre com velocidade e alcançam números impressionantes de posse de bola. Quase desmontam e impedem o adversário de jogar. Essa foi a inspiração que serviu de base para a seleção espanhola campeã mundial de 2010 e também para a seleção alemã campeã de 2014.
Após a saída estratégica do Barcelona na metade de 2012, Guardiola estava num período "sabático" que durou até 2013. Quando Mano foi dispensado da seleção, Pep viu ali a oportunidade de realizar um sonho: treinar e conquistar uma Copa do Mundo pela seleção mais tradicional do planeta, a única que ganhou o Mundial cinco vezes e que se tornou sinônimo e referência de futebol bem jogado.
Guardiola tinha tanta confiança que topava uma espécie de contrato por produtividade, ou seja, aceitaria ganhar menos caso o Brasil não levantasse o troféu no Maracanã. Mas não recebeu o "sim" da turma de Marin e Del Nero.
A CBF preferiu não correr o risco de ter arranhada a reputação do "bom e velho" futebol brasileiro e, ao invés do melhor treinador do mundo, preferiu optar por Luiz Felipe Scolari, aquele que não ganhou mais nada depois do penta de 2002, que pela seleção portuguesa perdeu em Lisboa uma final de Eurocopa para a Grécia em 2004, que trabalhou no Uzbequistão e que depois rebaixou o Palmeiras para a segunda divisão exatamente no Campeonato Brasileiro de 2012. Para a CBF, era melhor apostar mais uma vez nos métodos e concepções da tal Família Scolari "que não perderia uma Copa disputada no Brasil". A mesma certeza de Carlos Alberto Parreira, o então co-piloto de Felipão, para quem "o Brasil estava com uma das mãos na taça".
E veio a Copa do Mundo no Brasil. E o fatídico 7 x 1 sofrido para a campeã Alemanha, o jogo que até hoje, depois de um ano, ainda não acabou para a mesma imprensa que "detonaria" uma escolha errada da CBF em 2012.
Passado o fiasco na Copa, o que fizeram os notáveis dirigentes que comandam a CBF? Trocaram Felipão por Dunga, aquele mesmo que já não tinha dado certo em 2010. E dia após dia a seleção brasileira vivencia a perda e o luto através da mídia. Ao contrário do futebol no Brasil, o 7 x 1 renasce a cada eliminação, como diante do fraco Paraguai na Copa América.
Azar da turma de Marin (que hoje está preso) e Del Nero que, de costas largas, escolheu o duvidoso no lugar do quase certo, o passado em vez do futuro? Ou azar do futebol brasileiro que tem a CBF para decidir por ele sabe-se lá o quê e por quê?
Guardiola tinha coragem, mas não teve oportunidade. A CBF tinha a oportunidade, mas não teve coragem.


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