domingo, 24 de abril de 2016

O FUTEBOL AGRADECE A "AUDAXIA"

*por Adriano Oliveira

" - Tenho que ser o mais calmo do time, se não fico nervoso e dou chutão. Os zagueiros e os meias têm que se desmarcar para me ajudar."
(Henrique Cucato, 17 anos, goleiro da base do Audax que está há seis anos no clube).

(foto: GazetaPress)

Uma banana para a mesmice.
Essa é a melhor forma encontrada para definir a reação de quem assiste a um jogo do Audax. Por que?
Porque quando o goleiro Sidão domina a bola e tenta um drible no atacante adversário dentro de sua pequena área, com o único objetivo de não dar um bico para o lado que o seu nariz apontar, entende-se que tal atitude "temerária" é algo fundamental para recomeçar o jogo de pé em pé, da defesa para o ataque, o que é irritantemente seguido à risca por todos os comandados do técnico Fernando Diniz.
O Audax atinge projeção nacional não apenas por chegar às finais do Campeonato Paulista, passando por cima de São Paulo e Corinthians, o que já seriam motivos suficientes. Mas o maior destaque do time de Osasco é sua filosofia de jogo que começa nas categorias de base e vai até o time profissional, mesmo que tal filosofia possa provocar calafrios cada vez que o goleiro tentar driblar um atacante dentro da pequena área, somente para privilegiar o toque e, com isso, a posse da bola. Normalmente, as principais jogadas de perigo do time adversário são "criadas" pelos próprios defensores do Audax, que perdem a bola em situação de risco, onde o mais fácil seria um chutão pra frente. Contudo, essa é a certeza de que a "audácia" do Audax dá uma banana para os perigos iminentes de se propor um estilo de jogo no mínimo diferente dentro do empobrecido futebol brasileiro, repleto de esquemas táticos bastante discutíveis. Não é de hoje que Fernando Diniz usa sua fórmula "audaciosa" que tenta driblar o feijão-com-arroz do futebol nacional. E se torna mais audacioso ainda por comandar uma equipe de baixo orçamento, sem craques ou talentos individuais, cuja folha salarial é vinte vezes menor que a do Corinthians, por exemplo.
Se existe um segredo?
Talvez. Na base, por exemplo, todos os garotos não têm posição definida. O goleiro nem sempre é o goleiro. As vezes treina e atua como volante, outras vezes como zagueiro e até como meia-atacante. É quase obrigatório que ele saiba jogar com os pés, ou que pelo menos saiba sair jogando com os pés, exatamente como costuma fazer o goleiro Sidão, que defende o gol da equipe principal. O atacante tem de saber marcar, dar carrinho no meio de campo e voltar constantemente para buscar o jogo e manter a posse de bola o maior tempo possível.
É desde garoto que, no Audax, se aprende a jogar futebol sem dar chutões ou rifar a bola. O clube não busca contratar jogadores, mas utilizar suas revelações da base que já conhecem bem o estilo de jogo adotado como premissa básica para seguir adiante nos profissionais.
No Audax não há lançamentos de longa distância. Os passes devem ser curtos, pois assim a chance de erro é mínima, desde a saída de bola até o ataque, sempre em bloco.
O time considerado titular que chegou às finais do atual Campeonato Paulista possui cinco jogadores que subiram da equipe sub-15 campeã estadual do ano passado em cima do Santos, o clube que tradicionalmente mais revela jogadores no futebol brasileiro.
Se dá resultados?
Na goleada sobre o São Paulo por 4 x 1, que eliminou o time do Morumbi nas quartas-de-finais do torneio, o time de Fernando Diniz deu 462 passes certos durante a partida. Os comandados de Patón Bauza, 215. A diferença é absurda.
Na semifinal dentro do Itaquerão lotado, o Audax jogou para frente e em nenhum momento se fechou atrás a espera do Corinthians. O time de Osasco esteve duas vezes a frente no placar e não mudou o jeito de jogar, sempre ofensivo e rápido, em busca da vitória, mesmo que isso não fosse talvez a coisa mais inteligente a se fazer diante de uma equipe que havia vencido doze das últimas doze partidas disputadas em seu estádio. O corintiano não esperava encontrar um time tão "atrevido" do outro lado. E quando o Corinthians empatou, certamente acreditou que viria a virada. Não veio. Em determinados momentos da partida, mesmo vencendo, haviam sete ou até oito jogadores de vermelho no campo de ataque pressionando os defensores corintianos que apenas corriam atrás da bola. Pior: os dois gols marcados pelo time de Tite vieram de "lambanças" dos próprios jogadores do Audax. Depois do empate em 2 x 2, veio a disputa por pênaltis. E o audacioso Audax venceu por 4 x 1.
Fernando Diniz está tentando fazer algo de diferente no futebol. E, principalmente, treinando e colocando em prática. Muita gente pode entender sua proposta de jogo como "irresponsável", mas através de sua "audácia" seu time passou com propriedade por cima de São Paulo e Corinthians. Se o título paulista vai vir ou não, é outra história que será contada mais adiante. Mas fica a certeza de que vale a pena ter um conceito que dá um bico na mesmice e no futebol brucutú, aquele que perde por 7 x 1 na base do "vamos que vamos".
Sim, vale o risco. Fernando Diniz assina embaixo o que seu time faz dentro de campo.
Os "loucos por futebol" agradecem.

(foto: R7 Esportes)



Adriano Oliveira tem este Blog desde 2009, mas a paixão pelo futebol nasceu bem antes disso. É um apaixonado que vibra pelas 11 posições, mas sempre assume uma, pois jamais fica em cima do muro. Aos 43 anos, o futebol ainda o faz sentir a mesma coisa que ele sentia aos 10.

4 comentários:

Unknown disse...

Olá Adriano parabéns pelo blog. Meu nome é Anderson e estava assistindo a um jogo do Bayer de Munich e ontem assisti o jogo do Audax e vi muitas semelhanças quanto a forma de jogar e achei impressionante a Audácia do técnico Fernando Diniz, parabéns.

Mestre disse...

Esse é o mesmo Padrão de ensino do Barcelona, que foi idealizado pelo Cruyff, os time da base usam a mesma formação só time principal é a mesma filosofia de jogo. Existe essa manutenção se ideal é o treinador que chega no Barcelo sabe que terá que jogar no 4-3-3, não é uma escolha. O São Paulo teve a oportunidade de implantar a filosofia do 3-5-2 no clube, vinha de um período vitorioso, com boas referências no time principal não o fez e por isso não conseguiu dar continuidade no seu período de vitórias. O time principal jogava no 3-5-2 e na época o Baresi treinador da base claramente jogava. No 4-4-2, oh seja aquelas jogadores não se encaixavam no padrão do São Paulo profissional. Mas isso tudo porque o futebol brasileiro é muito profissional, bem administrado.

Alessandro disse...

Muito obrigado pelo incentivo, Anderson.
Obrigado mesmo e um abraço!

Alessandro disse...

É, no mínimo, um jeito de jogar interessante.
A filosofia é a mesma sim de Michels e Cruyff, porém Fernando Diniz jamais conseguiria impor tal conceito, da forma quase lúdica como faz, num time de maior grandeza.
Obrigado pela leitura. Abraço.