domingo, 3 de agosto de 2014

OS TIMES DO "TEATRO DOS VAMPIROS"

Muito se fala agora da necessidade em moralizar e reestruturar o futebol brasileiro depois do fracasso na Copa do Mundo disputada em nosso quintal.
Muitas coisas precisam ser repensadas. O processo é longo e requer esforços de todos os lados. E, principalmente, disposição e vocação para mudar.
E essa renovação passa irremediavelmente por quem exibe o futebol.
Atualmente, a maior parcela das receitas dos clubes no Brasil pertence às cotas de televisão. Em segundo lugar vem o dinheiro do patrocinador e lá embaixo, bem distante, vêm as ações de marketing, o licenciamento de exploração comercial da marca e a arrecadação com bilheteria.
Mas quais são os critérios de distribuição das cotas de TV no futebol brasileiro?
Em quase todos os grandes campeonatos da Europa (e temos sempre que copiar de quem deu certo, claro), a televisão busca homogeneizar o montante de dinheiro destinado aos clubes. 70% do valor dos direitos de transmissão é dividido igualmente entre todas as equipes, e o restante varia de acordo com a classificação de cada time na tabela, índices de audiência e número de partidas transmitidas ao vivo. Ou seja, um sistema "inteligente" baseado em critérios de igualdade, desempenho e exposição de cada agremiação, não privilegiando o time A ou o time B. Uma associação de fatores que se ligam entre si de acordo com o aproveitamento e, consequentemente, com a visibilidade de cada time na temporada.
E no Brasil? Como é feita a distribuição das cotas pela emissora que detém os direitos de transmissão?
Por aqui o modelo é monopolizado. A mesma emissora transmite em TV aberta, TV fechada e Pay-Per-View, em todas as categorias e níveis, da Copa São Paulo de Futebol Júnior à Copa do Mundo. Não há outro critério para definição das cotas que não seja o econômico. A detentora dos direitos paga os valores que ela própria estipula para cada equipe e, claro, privilegia os times que mais lhe interessam comercialmente.
Esses times dominam as transmissões e a exposição em toda a temporada, mesmo que mostrem um futebol sofrível dentro de campo e uma administração desastrosa fora dele. Aos demais clubes, sobram as migalhas e os minutos pulverizados em sua grade de programação esportiva.
O Cruzeiro, por exemplo. É o time que joga o futebol que mais se aproxima do que se viu de moderno na última Copa. Campeão brasileiro absoluto de 2013 e caminhando a passos largos para o bi em 2014. Mas e daí? Qual a vantagem em procurar se estruturar e formar uma equipe vencedora que ganha títulos? Como é a exposição nacional e qual é o retorno financeiro obtido através da televisão? O clube mineiro recebe hoje cerca da metade do valor recebido pelos dois clubes mais abonados pela TV. Essa é uma maneira justa de privilegiar um clube que joga atualmente o melhor futebol do país? Esse é o incentivo que se dá à competência?
O Cruzeiro ou qualquer outro time do chamado "pelotão intermediário" pode ser campeão, bi-campeão ou tri-campeão que nada vai mudar. Os privilegiados continuarão sendo os mesmos. Essa é a lei que impera hoje no lucrativo e atraente "show business" que se tornou o futebol no Brasil.
Jogos realizados durante a semana as 22h00? Esse é o melhor horário para o torcedor assistir aos jogos ou para ir ao estádio? Porém, o futebol não pode atrapalhar a novela, como se sabe. Mas quem está preocupado com a população que gosta, que consome e que ainda dá audiência ao futebol?
Fica a pergunta:
- Os times são privilegiados pela TV porque têm mais torcida ou têm mais torcida porque são privilegiados pela TV?
Se não houver mudança estrutural, em todos os segmentos, corre-se o risco de se matar o futebol no Brasil. E isso vai começar a acontecer de fato a partir do momento em que o torcedor sentir que o "Teatro dos Vampiros" impôs ao seu time o mero papel de eterno coadjuvante.

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