domingo, 14 de junho de 2015

O QUE IMPORTA É O 7 x 1?


O brasileiro, de um modo geral, tem uma tendência, uma capacidade e um complexo incrível de ser vira-lata. Espera sempre pelo pior em quase tudo o que faz e acredita que tudo o que é nosso não funciona ou vai dar errado. Jamais se prepara para o sucesso, prefere curtir os louros do vexame para que, no final, possa estufar o peito e dizer:
 Eu Não disse? Eu não falei?
E se existe um lugar onde o brasileiro deveria cantar com orgulho o hino nacional é no estádio de futebol, em dia de jogo da seleção brasileira. A seleção de futebol que historicamente sempre foi o caminho mais fácil para milhões de brasileiros, tão carentes e desprovidos de alegria, se sentirem "campeões".
Mas onde foi parar o orgulho? Foi tão ferido assim pela última Copa? Será que o país cinco vezes campeão do mundo é hoje de fato pior do que a seleção da Costa Rica, tão "elogiada" por tanta gente? Será que o futebol do Brasil é mesmo inferior ao da França, de Portugal, da Argentina? Países que no futebol ganharam muito menos do que o "vergonhoso" Brasil?
Será que é justo boa parte dos torcedores criticar de forma tão veemente a "qualidade" de nossa seleção? Não é no mínimo incoerente se cobrar mais qualidade em troca de resultados, quando nas últimas décadas se idolatram por aqui treinadores como Parreira, Felipão, Tite e Muricy Ramalho, que sempre foram vitoriosos jogando um futebol feio, de lógica, de resultados?
A Holanda, por exemplo, é um caso a parte no futebol. Uma escola tradicional, do padrão de jogo sempre inovador, os caras que de tempos em tempos reinventam o futebol bonito. Só que a Holanda sempre joga como nunca e perde como sempre, desde os tempos de Johan Cruyff ou do carrossel de Rinus Michels. E nem por isso a seleção holandesa deixa de ser reverenciada no mundo inteiro, sempre apontada como favorita em todos os torneios que disputa. E o futebol brasileiro, que sempre revela os melhores jogadores, que sempre teve seleções marcantes ganhando ou perdendo, que sempre influenciou os melhores times do mundo, sempre foi referência e sempre ganhou tudo, é quase sempre desvalorizado pelo próprio torcedor brasileiro. Pior: virou motivo de chacota por aqui, de piada sempre pronta e aguçada de nossos "especialistas" e profetas do eterno 7 x 1.
É claro que o Brasil da Copa América de 2015 não é o fantástico time de futebol da Copa de 1982, que encantou o mundo mesmo sem ganhar nada. Também não é o time solidário, eficiente e vencedor da Copa de 1994. Mas o Brasil de hoje, apesar de ter apenas um jogador brilhante e fora-de-série, também não é pior do que nenhuma outra seleção que disputa o torneio sul-americano no Chile. O Brasil de hoje, e principalmente do pós-Copa, é sim um time cuja missão é, acima de tudo, resgatar sua identidade. O Brasil de Dunga é uma seleção que não sabe se parte para cima ou se espera na defesa sem se expor para evitar uma derrota, ou pior ainda, "um novo vexame". Porém, a seleção brasileira ainda é referência quando se fala em futebol, em qualquer lugar do mundo. Menos no Brasil.
Ganhamos cinco Copas do Mundo, oito Copas América, quatro Copas das Confederações, fomos a sete finais de Mundiais e o único país que jamais deixou de participar de algum deles. Contudo, os mesmos torcedores que gostam de debochar, humilhar e vaiar a seleção brasileira em dia de jogo, em sua maioria são os mesmos que vibram com o placar de 1 x 0 sofrido de seu time no Campeonato Brasileiro.
Não é para o brasileiro morrer de amores pelo técnico Dunga, longe disso. Mas a sua seleção venceu 10 das 10 partidas que disputou depois do fiasco na Copa diante da Alemanha. E por que então ainda se insiste tanto em continuar falando apenas do 7 x 1? Por que tamanha vocação para vira-lata? O Brasil está jogando melhor, com mais confiança, mas o 7 x 1 continua em pauta, o culto pelo que não deu certo persiste entre os brasileiros.
É preciso resgatar o genuíno futebol brasileiro do jogador que arrisca, que vai pra cima, dá caneta, sorri quando dribla, é ousado em direção ao gol, mostra alegria quando corre atrás da bola deixando o adversário sem graça para trás. Com sangue nos olhos, mas acima de tudo, com a boa e velha alegria de jogar futebol. O futebol que erra para tentar ganhar, bem ao contrário de um futebol jogado filosoficamente para não perder.
 Ahh, mas e o 7 x 1?
Ora, um 7 x 1 não se explica. E ponto final.

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