sábado, 27 de junho de 2015

VALDÍVIA PERDEU O PALMEIRAS


O som dos teclados dos computadores domina o ambiente na sala em mais um dia de trabalho. De repente, ao olhar as últimas notícias na internet, um palmeirense dispara em voz alta num tom de alívio:
 Finalmente o Valdívia vai embora do Palmeiras!
 Ahhh... Mas ele joga bem - retruca o outro palmeirense, mais contido.
Jorge Valdívia é assim. Divide opiniões até entre os palmeirenses. Enquanto a maior torcida organizada do clube faz churrasco para comemorar sua nova ida para o futebol árabe, há torcedores que sentem a saída do "ídolo" já anunciada faz tempo pelo próprio jogador.
Um prenúncio de despedida que veio no "empenho" das últimas partidas, nas comemorações junto com a torcida nas últimas vitórias, nas entrevistas declarando o desejo de ficar e o amor à camisa. Ingredientes típicos de jogadores que precisam se esforçar às vésperas do fim do contrato, na tentativa quase desesperada de "voar" em campo para se (re)valorizar e, com isso, colocar os dirigentes contra a parede perante a torcida. As vezes o apelo funciona, as vezes não. Dessa vez não funcionou com o presidente Paulo Nobre, que se mostrou mais preocupado com as finanças do clube do que com o sentimento de torcedores imediatistas. O Palmeiras propôs a Valdívia um contrato de produtividade que diminui seu salário fixo, mas que ao mesmo tempo aumenta seus ganhos, dependendo de seu rendimento dentro de campo.
Por que o chileno rejeitou? Simples. Porque normalmente ele não está dentro de campo.
Desde que retornou ao clube em 2010, Valdívia tem mais lesões do que gols: 19 x 17. Ele jogou, em média, menos da metade dos jogos do time em cada ano. E quase não balançou as redes. Nos últimos cinco anos, fez apenas três gols por temporada. Mesmo assim, ainda é o maior salário do elenco há muito tempo.
Valdívia não é titular absoluto na seleção chilena, nunca despertou interesse do futebol europeu e passa mais tempo de chinelinho no departamento médico do que de chuteiras dentro de campo. Por que Paulo Nobre renovaria seu contrato nas condições em que o jogador deseja? Só por que ele é ídolo de parte da torcida?
O meia chileno tem qualidade e quando quer faz a diferença no limitado time do Palmeiras, como fez diversas vezes nos últimos anos, mesmo com campanhas sofríveis. Valdívia é capaz e sabe jogar bonito. Mas lhe falta corpo e, se não lhe falta mente, lhe falta força de vontade. Para fazer a diferença, é preciso querer fazer. Como foi em 2008, em sua primeira passagem pelo clube, ou nos jogos decisivos da Copa do Brasil de 2012. Curiosamente, ainda em 2012, o Palmeiras elaborou até uma cartilha de bom comportamento para o chileno assinar, no fim da temporada, temendo por polêmicas e excessos do jogador que estava em boa fase, além de ter batido seu recorde de participação numa única temporada, quando disputou 35 partidas pelo time. Surpreso e irritado, o "mago" respondeu que "o Palmeiras tinha que respeitá-lo por tê-lo no time".
Valdívia fez, ao todo, 241 jogos vestindo a camisa do Palmeiras. Desde o início de sua segunda passagem, que começou no segundo semestre de 2010, esteve em campo 148 vezes dos 338 jogos do clube. Ou seja, só esteve em campo em apenas 43,7% das partidas. Só as lesões o tiraram de 132 jogos. É tempo demais fora dos gramados e muito pouco tempo com a bola nos pés. Uma péssima relação custo-benefício com pouquíssimas razões para uma renovação de contrato que não seja por produtividade. Se há hoje um jogador que exige um contrato do gênero é justamente ele. O palmeirense sabe disso. Mas ele tem lembranças que o fazem adorar Valdívia, embora tenha muitas outras razões para querer vê-lo longe do Allianz Parque. Os que ainda defendem sua permanência, é porque fingem não enxergar essas tantas razões, muito maiores do que uma ou outra partida brilhante, com lampejos de craque do habilidoso meia, o estrangeiro com mais vitórias na história do Palmeiras.
Por essas e outras, Valdívia normalmente usa sua condição de "ídolo" palmeirense como seu único argumento favorável na hora de renovar seu contrato da maneira como quer e continuar no clube. Ele sabe que seu valor para o Palmeiras (ou para o palmeirense) ainda é bem maior do que para o mercado.
Só que não deu certo. Não dessa vez. E o mago Valdívia perdeu a sua "magia" no Palmeiras. Finalmente para alguns ou infelizmente para outros. Futebol tem dessas coisas. Afinal, muitas vezes a paixão cega. Principalmente a do torcedor.


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