segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A INCOMPETÊNCIA DE QUEM APITA E DE QUEM JOGA


" - Não se pode pedir ao artista mais do que ele pode dar, nem ao crítico mais do que ele pode ver" (Georges Braque, pintor e escultor francês).

Tudo caminha relativamente bem para o Corinthians. O Campeonato Brasileiro começa a ficar até meio sem graça restando ainda 15 rodadas. Apesar das eliminações prematuras na Copa Libertadores da América e na Copa do Brasil, o time do técnico Tite se recompôs a tempo. E se não encanta com seu futebol eficiente e pragmático, está acumulando gordura no topo da tabela conquistando pontos dentro e fora de casa, enquanto seu adversário mais próximo, o Atlético-MG, não consegue caminhar com a mesma regularidade e tem seus tropeços.
Seguro até aqui, o Corinthians pode ter em 2015 a vida ainda mais fácil do que teve o Cruzeiro em 2013 e 2014. Imagina-se, ao que tudo indica, que poderá erguer o troféu com mais rodadas de antecedência que o clube mineiro no ano passado.
Diante desse cenário, muita gente colocou em xeque a maré mansa do time de Itaquera. Questiona-se mais que antes a fórmula dos pontos corridos e até a mídia chegou a veicular recentemente uma certa campanha pela volta dos mata-matas. Mas de fato a bola da vez que esquenta as discussões depois de cada rodada é de que a culpa pelo campeonato atual se tornar modorrento é da arbitragem. Fala-se bastante em "esquema" a favor do líder do campeonato e o técnico do Atlético-MG, Levir Culpi, até extravasou ao declarar que "o campeonato deste ano já está manchado pela arbitragem". Será? De nenhuma forma se consegue enxergar méritos no futebol consistente praticado pelo time de Tite?
Impossível dizer que o Corinthians não está sendo beneficiado pelos erros dos homens que apitam. Porém, difícil acreditar em "esquema". Afinal, nunca antes na história do futebol brasileiro a CBF precisou de tanto apoio político como seu presidente Marco Polo Del Nero precisa neste momento. Como se sabe, há o risco de se instaurar uma CPI do Futebol e a forte investigação do FBI que já causou a prisão de dirigentes no mundo inteiro (inclusive de José Maria Marin), tem tirado o sono de muitos cartolas por aí. Difícil imaginar então que a CBF de Del Nero possa estar "colaborando" com o time de seu maior desafeto, Andrés Sanchez, o homem-forte do Corinthians. E ao mesmo tempo caindo em desgraça com outros 19 dirigentes da elite do principal torneio de clubes do Brasil.
Quem então estaria por trás do tal "esquema"? A televisão, que vê o torcedor perder o interesse e sua audiência despencar na reta final do campeonato? Que sabe que a empolgação dos mata-matas lhe dá muito mais ibope que o modelo por pontos corridos?
Quando o Palmeiras perde em casa para o Atlético-PR a culpa é de quem? Ou quando o São Paulo perde no Morumbi para o Goiás por 3 x 0? Quando o Santos disputa um terço do campeonato sem treinador beirando a zona de descenso, de quem é a culpa? Quando o Flamengo perde no Maracanã por 3 x 0 para o próprio Corinthians e não consegue ganhar do quase rebaixado Vasco? Quando o Cruzeiro demite um técnico bicampeão brasileiro e coloca o decadente Vanderlei Luxemburgo em seu lugar com o campeonato em andamento, o culpado é o juiz? Em todos esses casos, só para citar alguns, a culpa também é de quem apita? Será que antes de torcer por tropeços do Corinthians não é melhor para Levir Culpi que o seu Atlético-MG faça a sua parte dentro de campo?
O fato é que o Corinthians está sim sendo favorecido pelos erros de arbitragem. Porém, pela incapacidade dos árbitros em apitar uma partida profissional de primeira divisão e não talvez por um "esquema" manipulado intencionalmente. O amadorismo que culmina em péssimas arbitragens causa prejuízo para o futebol, afasta o torcedor, pouco a pouco diminui o interesse, gera dúvidas quanto à credibilidade do torneio, proporciona o distanciamento entre os times na tabela (no topo e no rodapé) e o pior: torna protagonistas os apitadores ao invés de promover o debate futebolístico propriamente dito, que deveria ser o mais importante.
Árbitros são mal preparados tecnica e fisicamente. A maioria está acima do peso. Durante a semana, trabalham em indústrias, bancos e escritórios. Recebem um "cachê" para apitar jogos importantes aos olhos de milhões de telespectadores. São amadores dentro de um esporte cada vez mais profissional em todos os aspectos. Com o avanço da tecnologia, por exemplo, os erros de arbitragem se tornam mais grosseiros e mais visíveis que no passado. E o juiz cada vez mais exposto. Por outro lado, quem "consome" futebol sabe criticar e afirmar que "o campeonato está comprado", que árbitros da FIFA, teoricamente "mais qualificados", apitam mais jogos de um determinado clube que de outros, etc. Mas quatro em cada cinco torcedores sequer estão interessados em saber como funcionam os sorteios dos juízes para cada rodada do campeonato, por exemplo. E a CBF tampouco está preocupada em divulgar. Ou seja, se estabelece a dúvida sobre tudo e sobre todos. Fica difícil para o brasileiro, historicamente complexado com a questão da desonestidade (por razões óbvias), acreditar na honestidade de um juiz de futebol.
E o que faz a CBF?
Ao contrário de profissionalizar também a arbitragem, a CBF prefere punir a reclamação dos jogadores com a distribuição em massa de cartões amarelos.
Ao contrário de capacitar a arbitragem, a CBF pune o juiz que cometeu um erro considerado grave com dois ou três rodadas de suspensão. Logo depois ele estará de volta apitando jogos importantes, tão despreparado quanto antes.
Ao contrário de aceitar o diálogo, federações estaduais resolvem punir os clubes contrários aos seus regulamentos.
E por aí vai.
Uma coisa é o árbitro errar. Outra coisa é errar por incompetência. E, com exceção do Campeonato Brasileiro de 2005, quando tivemos um réu confesso, na esmagadora maioria das vezes os árbitros erram por serem, de fato, ruins. Muito ruins.
Quanto ao campeonato, o futebol feio do líder Corinthians tem seus méritos, sim. Cabe ao Atlético-MG, e talvez mais um ou dois times no máximo, a possibilidade de mudar o panorama na fase final do returno. Ameaçar ou pelo menos incomodar o Corinthians. Jogar mais do que estão jogando, correr atrás da diferença de pontos mostrando futebol, capacidade e regularidade.
Árbitros ruins geram arbitragens ruins pra todos. Portanto, não vacilar é o maior "esquema" dos pontos corridos.


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