sábado, 26 de setembro de 2015

O CRAQUE DENTUÇO DE TODOS OS TEMPOS DA ÚLTIMA SEMANA


Ronaldinho Gaúcho é um brincalhão. Sempre foi.
Do chapéu no zagueiro Dunga no longínquo Campeonato Gaúcho de 1999, que lhe rendeu antipatia do atual treinador da seleção brasileira até os dias de hoje, até quando expõe seu habitual e inigualável sorriso largo em selfies durante baladas intermináveis na Barra da Tijuca, em sua residência que vale R$ 60 milhões.
Ronaldinho sempre sorriu e brincou desde que surgiu para o futebol. Com e sem a bola nos pés. Divide com Renato Gaúcho as opiniões sobre quem foi a maior revelação da história do Grêmio. Vestiu as camisas do Paris-Saint-Germain e do Milan, mas foi no Barcelona que se tornou talvez o jogador mais talentoso de sua geração. Seus dribles fantásticos, suas jogadas brilhantes e seus belos gols lhe deram status de maior jogador do mundo por dois anos seguidos, em 2004 e 2005. Pelo time da Catalunha, foi aplaudido de pé pela torcida do arqui-rival Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu, na vitória memorável do Barcelona por 3 x 0 sobre os merengues, com dois gols seus e uma atuação irretocável. Um feito para poucos, que nem um tal de Lionel Messi ainda conseguiu.
Ganhou fama, prestígio e muito dinheiro jogando bola. Deixou de ser o atrevido moleque do Grêmio (que humilhou o veterano capitão do Tetra) para ser um astro do futebol internacional. Com o glamour que até hoje lhe permite viver a vida como deseja. Até namorar a atriz principal da novela, mesmo sem os traços faciais do galã que atua com ela.
Seja conduzindo o Atlético-MG à conquista inédita da Copa Libertadores da América, seja passando despercebido no futebol mexicano, Ronaldinho Gaúcho é um jogador que passou de diferenciado à diferente, a ponto de declarar "juras de amor" à camisa 10 de Zico e ao mesmo tempo mandar e desmandar no Flamengo de Patricia Amorim, dando em troca "apenas" um título estadual e depois cobrar na Justiça R$ 40 milhões em salários atrasados.
É hoje um jogador que entra em campo para ser praguejado por milhões de telespectadores sentados no sofá durante o jogo de domingo. Mas somente até a partida seguinte, quando entrar no 2º tempo e der uma caneta no volante, um drible desconcertante no zagueiro, fazer um lançamento preciso deixando algum companheiro na cara do gol e, quem sabe, marcar um ou dois gols. Será ovacionado pelo torcedor no Maracanã lotado, dará dezenas de entrevistas e participará de pelo menos dois dos principais programas esportivos da segunda-feira. Afinal, "Ronaldinho é Ronaldinho", diria na saída do estádio um torcedor do Fluminense sorrindo tanto quanto o dentuço.
Quando voltou ao Brasil e resolveu trocar o frio do sul pelo sol e as praias do Rio de Janeiro, se tornou o "ingrato, o dentuço traíra e o mercenário", que não deu valor ao clube que o revelou. Mas futebol também é isso. O ídolo de um é a farsa na ironia do outro.
Foi eleito o melhor jogador da América de 2013 por mais de 200 jornalistas, em votação realizada pelo maior jornal do Uruguai. Voltou a se encantar com os flashes, os holofotes e com tudo o que a vida extra-campo pode oferecer a uma eterna estrela do futebol. Novamente caiu em desgraça para tanta gente quando o Atlético-MG deu vexame no Mundial de Clubes ao ser eliminado por um inexpressivo time marroquino com nome de filme famoso dos anos 40.
Era o jogador dos sonhos de Eurico Miranda que, em mais um de seus devaneios políticos, o anunciou como "100% no Vasco". Só que não. O dentuço, sorridente como sempre pelos prazeres da vida, voltou de Querétaro direto para o Fluminense. E da estréia como titular jogando 90 minutos, direto para o banco de reservas.
Ronaldinho é assim. Faz um treino aqui e outro ali. Entra em campo, mas não joga. Não porque não sabe mais jogar, mas porque não quer. Não sorri sentado no banco de reservas, mas escancara sua gargalhada característica nas colunas sociais sempre ao lado de belas mulheres e celebridades.
Dizem por aí que jogadores do time carioca "fazem bico" para o meia, que o boicotam por não concordarem com sua contratação e que também por causa disso o time despencou no Campeonato Brasileiro. Mas não era esse o risco desde o início? Como se sabe hoje, o Fluminense não tinha a menor ideia se estava contratando o Ronaldinho do Atlético-MG ou o do Querétaro. Arriscou. E podia dar certo.
Mas por que (ainda) não deu certo no Fluminense?
Porque Ronaldinho joga e brinca quando quer. E hoje só quer brincar nas festas de três dias que oferece em sua mansão ao lado dos amigos misturados entre atores globais. O jogador não é o "salvador da pátria", como imaginaram os dirigentes e parte da torcida do Fluminense que não lota o estádio nem para vê-lo em campo.
Aquele Ronaldinho Gaúcho do Grêmio e principalmente do Barcelona ainda dará ao atual craque dentuço a alegria de sorrir por muito tempo, em alto e bom som. Mas, neste momento, ele prefere mais o som das badaladas festas que promove do que o som das arquibancadas.
Quem está errado?

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