terça-feira, 29 de setembro de 2015

ROGÉRIO CENI E O AZAR


É claro que, depois dos 40 anos, algumas falhas se tornam imperdoáveis.
Afinal, não se julga um veterano como Rogério Ceni da mesma maneira como se julga um Gabriel Jesus, por exemplo.
Ao veterano as críticas sempre são mais duras e mais ácidas. E normalmente se enxerga mais a decadência do que as virtudes de antes.
Rogério Ceni já adiou mais de uma vez sua aposentadoria. Como maior ídolo da história do São Paulo, seria justo para ele deixar os gramados com "o último pôster na parede", segundo suas próprias palavras.
Mas está valendo a pena? Quem determina a hora de um ídolo parar?
Ninguém senão ele próprio. E é importante para um grande jogador compreender o momento de abandonar o futebol antes que o futebol o abandone.
Qualquer pessoa que se disponha a fazer uma rápida pesquisa na internet e se depare com os números e estatísticas de Ceni, terá a certeza de que jamais haverá outro goleiro com tantos feitos na carreira como ele. Goste-se ou não dele, Ceni é uma referência, uma marca registrada na história do futebol e um exemplo de profissionalismo.
Por essas e tantas outras razões, será mesmo necessário conviver a cada rodada com a possibilidade de arranhar tal imagem? Será que é preciso para um jogador de sua importância acordar no dia seguinte ao jogo e ver questionada sua capacidade física e técnica? Ser o alvo de piadas em provocações de torcedores rivais como se "mito" fosse apenas um apelido que os são-paulinos lhe deram?
Rogério Ceni novamente decidiu o clássico contra o Palmeiras, dessa vez no Morumbi, pela 28ª rodada do Campeonato Brasileiro. O jogo estava praticamente ganho para o São Paulo, 1 x 0, já nos acréscimos do 2º tempo. De repente, uma bola atrasada em sua direção, rápida, difícil, com muita gente por perto. Mas qual o problema? Um goleiro tão experiente, com técnica e reflexo apurados e que, diferentemente de quase todos os outros goleiros do planeta, sempre soube jogar muito bem com os pés. Os jogadores de seu time, qualquer um, têm plena confiança em recuar uma bola assim para ele, mesmo em situações de risco. Chutão para frente? Claro que não. Rogério prefere sair jogando com o propósito de manter a posse de bola com sua equipe e não entregá-la facilmente ao adversário. Mas entregou... E pela segunda vez no ano a bola foi parar diretamente nos pés do meia Robinho, do Palmeiras, que com todos os méritos tocou caprichosamente por cobertura para dentro do gol de Rogério. Na primeira vez, ainda pelo Campeonato Paulista, a mesma bola mal reposicionada por Rogério e o arremate certeiro de Robinho de quase do meio de campo. Dessa vez, a finalização também precisa, da entrada da área. Pouco importa: 1 x 1, fim de jogo, novo tropeço no Morumbi. O gol do empate com sabor amargo de derrota foi quase o replay do outro jogo, com os mesmos ares de crueldade diante do goleiro-artilheiro.
Naquela circunstância da partida, era a hora de Rogério Ceni jogar feio. Era a hora do chutão para frente, para o lado ou para trás. Para qualquer lugar, menos para os pés de Robinho, o carrasco.

 Foi uma infelicidade. Demos azar. - declarou o goleiro e capitão são-paulino depois do clássico.

Era o momento de, para um senhor de 42 anos, não dar chance para o azar.
O São Paulo ainda precisa de Ceni? Sua permanência dentro de campo, mesmo com falhas recorrentes e infelizes como essa, ainda é importante pelo seu futebol e referência ou somente como trunfo de estratégia de marketing na exploração da imagem do maior ídolo do São Paulo?
Seja como for, se um "mito" como Rogério Ceni ainda acredita que vale a pena correr o risco de continuar, ninguém poderá dizer o contrário.

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