segunda-feira, 22 de junho de 2015

SELEÇÃO BRASILEIRA: NEM SEMPRE NOS RISCOS MORAM AS OPORTUNIDADES


* por Priscila Ruiz

Se
mpre que há uma competição oficial da Seleção Brasileira reacende em mim a velha chama. Em 1998, aos 18 anos chorava em plena Place de l'Hôtel-de-Ville pelo vexame contra a França que eu testemunhava em um dos telões, em frente à Prefeitura de Paris. Em 2002 veio o alento e também a sensação de segurança que tudo caminhava bem. A partir daí, a tal da chama, na verdade, passou a se tratar de uma oportunidade que eu me dou para me reapaixonar pela Seleção. E meus caros, não está funcionando.
Sim, o nosso time avançou na Copa América, mas não estamos totalmente convencidos. Li no blog de um renomado jornalista esportivo, dentre tantos que devoro quase todos os dias, que vivemos a era do “sofrimento”. E é desolador constatar que estamos disseminando a cultura de conformismo com o estado de coma em que sobrevive o nosso futebol.Não há um dia sequer que aquele 7 x 1 não assombre o coração de loucos por futebol como nós. E a notícia da suspensão de Neymar, sem dúvida trouxe à tona novamente aqueles sentimentos vivenciados há um ano.

Confesso que temi que a partida contra a Venezuela fosse catastrófica e devo admitir também que embora o adversário fosse muito fraco, a vitória me surpreendeu.
Obviamente não tivemos um substituto para Neymar e o que se viu foi que todos se empenharam em participar mais na movimentação. Robinho, William, Philippe e Firmino tentaram suprir a ausência do capitão nos espaços do campo. Assim que o Brasil abriu o placar com Thiago Silva, a Venezuela buscou agredir mais, eis que Dunga claramente posicionou todos os jogadores no campo defensivo.
Durante a partida tive a impressão que os venezuelanos não se lembravam que precisavam de apenas um empate. Foi um filme com cenas repetidas, em nenhum momento houve ameaça ao time brasileiro que ainda ampliou em jogada de William, pela ponta esquerda, limpando o marcador para achar Firmino, que só empurrou para o fundo do gol.
Era cedo demais, quando Dunga abriu mão do ataque na partida para garantir o resultado. Esse futebol jogado para o gasto, sonolento, sem repertório, ganhando em amistosos apenas para fazer número e passando sufoco em competições, virou praxe para a CBF e os comandados dela.
Lamentações de lado, taticamente, o time teve muita mobilidade no domingo, principalmente com as trocas de posições com ou sem a bola, o que deu volume de jogo frente às linhas defensivas da Venezuela. Esperava menos pedaladas e mais passes de Robinho e isso aconteceu.
O ponto de atenção são os volantes: Elias e Fernandinho não arriscam e consequentemente continuam sendo opções a menos no time. Diante da desorganização da Venezuela, principalmente depois das substituições, pensei que o placar pudesse esticar um pouco, mas Dunga, sendo Dunga, também substituiu com um pragmatismo nato para segurar a classificação com quatro zagueiros, como já conversamos.
A escolha nessa improvisação de time custou a pressão aérea venezuelana resultando no gol de Fedor. E a verdade é que se o lado de lá fosse um “tiquinho assim” mais qualificado, possivelmente tomaríamos o empate. O que não mudaria os rumos da classificação ou mudaria? Não, não mudaria. Aí a pergunta que fica é: então, pra que correr riscos? Isso foge à minha compreensão. Nos riscos moram as oportunidades, mas se mal calculados se tornam vexames, ou seja, história.
Vitória suada é bonita para o Corinthians que tem isso em seu DNA e não para um time que precisa se firmar coletivamente com vitórias bem construídas, mirando a continuidade de um trabalho bem feito, com destino à próxima Copa do Mundo e quem sabe, de vez, enterrar esse sapo do 7 x1.

A Copa América tem mostrado um nível técnico bem abaixo do que merecíamos. A Argentina segue sem encantar. Já o Chile é a minha aposta. Enfim, quando pouco se espera do futebol, muito acontece. Que assim seja!

Vamos em frente, que venha o Paraguai! E seja como for, torcer contra eu não vou, vai Brasil!!!!
* Priscila Ruiz é advogada, especializada em Segurança e Direitos Humanos. E para ela "la vida es aquello que sucede cuando no hay fútbol". Ou seja, sim, ela é loucamente apaixonada pelo esporte bretão. Contribui com o AL MANAK FC através de sua opinião inteligente e analítica.

3 comentários:

Alessandro disse...

Concordo em gênero, número e grau. O time brasileiro se movimentou mais, mostrou mais disposição e venceu um jogo até então preocupante diante da... Venezuela. Quem diria que um dia o técnico da seleção brasileira teria de quebrar a cabeça para uma partida contra um adversário tão inexpressivo perante a seleção pentacampeã do mundo. Porém, não dá para vislumbrar um cenário melhor quando a seleção depende completamente de um único talento individual. Em relação ao "sapo" do 7 x 1, esse parece ser um jogo que está demorando demais para acabar.
Excelente texto, como sempre.

celsofritz disse...

O futebol sulamericano morreu?? Apesar do sucesso incontestável de jogadores como Neymar, Messi, Cavani, Tevez, Di Maria, entre outros é muito pouco para o continente que já foi dominante no futebol mundial. Atualmente onde a aplicação tática se sobrepõe ao talento individual, eu temo que esse cenário se torne irreversível e infelizmente no Brasil os jogadores não tem na parte tática o seu forte. Super Beijo moça e parabéns, como sempre vc foi brilhante em sua análise.

Alessandro disse...

Caro Celso,

acredito que com a presença cada vez maior de jogadores sul-americanos atuando em grandes clubes da Europa, eles finalmente conseguiram a equação do que seria o futebol realmente moderno: bonito e científico. Diferentemente do que acontece por aqui em terras tupiniquins.